Eu nasci prematura, aos seis meses de gestação, em Santa Bárbara, Bárbara, cidade situada no interior de Minas Gerais. Como esperado, a prematuridade trouxe consigo uma série de problemas de saúde. Sobretudo paralisia cerebral, cegueira, infartos e convulsões consecutivas. No entanto, as únicas sequelas foram a deficiência física e a incontinência urinária.
Vim para Belo Horizonte com dez dias de vida com minha mãe biológica, que procurou ajuda no Hospital São José, localizado na Região do Barreiro/Cidade Industrial.
Os médicos disseram a ela que eu não tinha chances de sobreviver e ela, sem condições financeiras de me criar, me deixou ali e não voltou.
Na equipe que cuidou de mim, estava uma enfermeira que resolveu me adotar, a Maria Inácia. Ela já tinha seis filhos, um falecido ainda bebê, mas ainda assim, ela quis cuidar de mim e eu faço parte dessa família até hoje.
Minha mãe adotiva faleceu em abril de 2021, aos 67 anos, em decorrência da COVID-19.
Eu nunca tive notícias da minha mãe biológica, nunca tive curiosidade de procurá-la. Deixo claro que não tenho nenhum tipo de mágoa e entendo que ela não teve condições. Apenas, não sinto necessidade e creio eu, que ela não me procurou, por achar que eu não sobrevivi.
Minha infância e adolescência foram normais, sempre frequentei escolas regulares com o advento de que sempre me destaquei entre os colegas de classe pela minha performance em sala de aula.
Minha autonomia e mobilidade demoraram a chegar, pois não tinha cadeira de rodas motorizada e precisava de ajuda para ir a qualquer lugar. Por isso, eu passeava com a família e frequentava a escola somente. E na primeira infância, houve um tempo em que eu não tinha sequer a cadeira de rodas manual e minha irmã, Juliana, me levava aos lugares nos braços.
Até que aos 19 anos, consegui o primeiro emprego por meio de uma vaga reservada para PcD’s em uma multinacional e lá aprendi a me comunicar melhor, perder a timidez e interagir com as pessoas. Tanto é, que alguns colegas me apelidaram de “relações públicas” do meu setor. Afinal, eu estava sempre sorrindo, brincando e fazendo amizade com todos. Dessa forma, me tornei muito querida lá, todos gostavam muito de mim.
Diante disso e da necessidade, ganhei minha primeira cadeira de rodas motorizada. Essa cadeira foi um presente dos então colegas de trabalho, devido ao fato de eu precisar de um acompanhante (meu pai, familiares e os então colegas que faziam trajeto parecido) para ir e voltar do trabalho com uma cadeira de rodas manual.
O trajeto era feito com o total de seis ônibus por dia, sendo, três ida e três volta. Para realizar o trajeto de casa para o trabalho e vice-versa, eu gastava de duas a três horas. Tudo isso, sem falar no “aperto” que eu passava com cadeira de rodas em época de chuva.
Em virtude disso, a galera da empresa se uniu e cerca de 300 pessoas doaram parte do valor necessário para a compra da cadeira. A partir daí, alcancei uma maior liberdade de locomoção e pude sair mais de casa, conhecer novas pessoas e locais.
Efetivamente realizei sonhos por meio dessa independência para me locomover. Entre as realizações que mais me marcaram estão duas viagens sozinha e a última da minha celebração de 30 anos de idade, em que fui para a cidade de São Paulo com os amigos.
Além de claro, o alcance do ensino superior em 2018, quando fui aprovada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e em agosto de 2019, entrei na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para estudar jornalismo.
Atualmente, estou no sexto período e já estou no terceiro estágio na área:
O primeiro ocorreu entre fevereiro de 2021 e março de 2022 na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO/UFMG);
O segundo ocorreu entre março e junho passados no Hospital Das Clínicas da UFMG/Ebserh;
E o atual onde estou desde agosto, é no Núcleo de Comunicação da UFMG (TV UFMG).
Aqui no blog, vocês podem obter informações, notícias, reflexões e essas histórias! Beijo Grande…